O Chevrolet Tracker chegou ao Brasil em 2013, importado do México, prometendo ameaçar a hegemonia de Ford EcoSport e Renault Duster, porém um acordo comercial dos governos brasileiro e mexicano estabeleceu cotas de importação que minaram a estratégia da GM para o SUV no país. Com o lançamento de novos modelos nacionais (Honda HR-V, Jeep Renegade e Peugeot 2008), o Tracker acabou sendo esquecido pela GM últimos anos.
Para tentar reverter a situação, a GM lança o Tracker 2017 com visual atualizado, apostando na eficiência do motor 1.4 turbo do Cruze e em preços competitivos para a média do segmento (R$ 79.990 a R$ 92.990).
O primeiro contato da imprensa especializada com o SUV foi em um rápido teste-drive realizado pela GM na fria Detroit, nos Estados Unidos, no começo do mês. Para avaliar o carro nas condições meteorológicas e de rodagem brasileiras, o Carsale e o Instituto Mauá de Tecnologia submeteram o Tracker 2017 a testes de consumo e desempenho cujos resultados foram comparados com os dados dos principais players do mercado: Honda HR-V, Jeep Renegade (já com as melhorias promovidas no motor 1.8 flex na linha 2017) e Nissan Kicks.
Produto global comercializado em mais de 70 países, o Tracker adota a atual identidade de design da Chevrolet caracterizada pelos faróis mais estreitos (com LEDs diurnos na versão LTZ) e pela grade hexagonal com molduras cromadas. No para-choque redesenhado, os espaços destinados aos faróis de neblina estão maiores e dão a impressão de o carro ser mais largo do que realmente é. Na traseira, as principais mudanças estão nas lanternas de LED da versão LTZ e nos novos refletores do para-choque. As rodas de liga leve também trazem novos desenhos.
Exceto pelo volante e comandos do ar-condicionado e dos vidros, praticamente tudo é novo. O painel ganhou um revestimento de couro sintético e material macio ao toque na parte superior (mas perdeu o porta-objetos com tampa) e o quadro de instrumentos agora é analógico. O acabamento apresenta melhora, mas ainda é todo em plástico rígido com apliques que imitam alumínio nas saídas de ar e no console central. O espaço na cabine é bom para quatro adultos, mas o porta-malas de 306 litros pode ser insuficiente para uma família que pretende viajar e ficar muito tempo longe de casa. A capacidade do compartimento supera apenas a do Renegade (273 litros). Os bagageiros de HR-V e Kicks levam 437 litros e 432 litros, respectivamente.
O grande destaque do Tracker está sob o capô – se antes o motor Ecotec 1.8 16V aspirado de 143 cv de potência e 18,9 kgfm (a 3.800 rpm) entregava desempenho discreto e tinha consumo acima da média, agora o Ecotec 1.4 turbo, que gera até 153 cv e 24,5 kgfm (a 2.000 rpm) com etanol, coloca o SUV à frente dos seus rivais em termos de desempenho e, por muito pouco, não vence todas as provas de consumo.
O Tracker cumpriu a prova de aceleração de 0 a 100 km/h em 9,62 segundos com gasolina e 9,05 segundos abastecido com etanol. O Honda HR-V 1.8 CVT, até então o mais rápido da turma, levou 11,34s/10,63 segundos (gasolina/etanol) para chegar aos 100 km/h.
Nas medições de consumo, o SUV da Chevrolet levou a melhor na estrada: 16,1 km/l com gasolina e 12,2 km/l com etanol, superando as médias de 15,8 km/l (gasolina) e 11,2 km/l (etanol) do Nissan Kicks. Em trecho rodoviário, no entanto, o SUV da marca japonesa obteve médias um pouco melhores que as do Tracker.
Teste Carsale-Mauá
0 a 100 km/h | Consumo cidade | Consumo estrada |
|
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Chevrolet Tracker 1.4 turbo flex A/T (150/153 cv) | 9,62/9,05 segundos | 11,2/7,8 km/l | 16,1/12,2 km/l |
Honda HR-V 1.8 flex CVT (139/140 cv) | 11,34/10,63 segundos | 10,5/7,6 km/l | 15,1/11,9 km/l |
Jeep Renegade 1.8 flex A/T (135/139 cv) | 13,77/13,22 segundos | 8,3/6,5 km/l | 14,7/11,4 km/l |
Nissan Kicks SL 1.6 flex CVT (114 cv) | 13,25/12,07 segundos | 11,6/8,3 km/l | 15,8/11,2 km/l |
Números aferidos com gasolina e etanol, respectivamente.
Na prática, o 1.4 turbo trabalha bem mais disposto e mostra um bom casamento com a terceira geração do câmbio automático de seis marchas GF6. Embora o desempenho do Tracker não seja de tirar o fôlego, é notório o ganho de agilidade nas acelerações e como ele embala com facilidade. No uso urbano, há força suficiente para enfrentar ladeiras e retomar velocidade a qualquer instante. Na estrada, o motor trabalha sempre “cheio”, pois disponibiliza 90% do torque máximo a apenas 1.500 rpm.
Por ter uma programação voltada ao conforto e à economia de combustível, a transmissão não estica muito as marchas nas acelerações mais fortes, mas realiza as trocas no momento certo e responde prontamente às reduções no kickdown ao pressionar o acelerador rapidamente até o final – bem que a GM poderia ter adotado borboletas no volante para trocas sequenciais no lugar da tecla na lateral da alavanca.
Outra novidade herdada do Cruze é o sistema start-stop, que desliga e religa o motor em paradas breves para economizar combustível. Como no hatch e no sedã, o recurso não pode ser desativado pelo motorista. Segundo a GM, o sistema reconhece quando deve ou não entrar em ação. A atuação do start-stop incomoda em algumas situações (ao parar o carro ao lado da vaga antes de fazer uma baliza, por exemplo), mas basta posicionar o câmbio no modo manual para que o sistema mantenha o motor ligado.
Além de andar mais e beber menos, o Tracker está mais agradável de guiar. A nova direção elétrica (antes era hidráulica) tem acerto um tanto direto para um SUV. A estabilidade em curvas também melhorou com os ajustes promovidos nas suspensões, que absorvem com eficiência a buraqueira do asfalto (mesmo com as rodas aro 18 da versão LTZ) e ainda mantêm o Tracker bem assentado nas curvas.
Uma pena que essa evolução em dinâmica e desempenho não foi suficiente para a GM substituir os freios traseiros a tambor por um conjunto a disco e instalar os controles de estabilidade e tração, itens de série nos principais concorrentes.
Desde a versão de entrada LT (R$ 79.990), o Tracker é equipado com airbags frontais; cinto de segurança de três pontos em todos os assentos; ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas infantis; luz de condução diurna; faróis de neblina; freios com ABS e EBD; rack de teto; rodas de alumínio de 16”; ar-condicionado; volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade; computador de bordo; piloto automático; retrovisores elétricos; travas e vidros elétricos com controle remoto pela chave; banco do motorista com ajuste de altura; multimídia MyLink com Android Auto e Apple CarPlay; OnStar com pacote Exclusive (Concierge, Segurança, Emergência, App, Diagnóstico, Navegação).
Na configuração LTZ (R$ 89.990), há o acréscimo de retrovisores com aquecimento e alerta de ponto cego; câmera de ré com alerta de movimentação traseira; sensor de estacionamento; faróis e lanternas com LED; acabamento externo cromado do friso das janelas, maçanetas das portas e da tampa do porta-malas; teto solar elétrico; rodas de alumínio de 18 polegadas; chave eletrônica com sensor de presença (keyless); computador de bordo com opção de mostrador digital da velocidade; descansa-braço para o motorista e passageiros traseiros; bancos e volante com revestimento premium; banco do motorista com ajuste elétrico lombar; banco do carona rebatível e com porta-objeto na parte de baixo. Acrescentando os airbags laterais e de cortina, o preço do SUV chega aos R$ 92.990.
Se antes o Tracker não tinha atrativos para se destacar no segmento, agora ele chega à linha 2017 com uma eficiente motorização turbo como principal argumento de compra. Por outro lado, o SUV peca em alguns detalhes, como as ausências dos controles de estabilidade e tração, além de não oferecer ar digital, espelho anti-ofuscante e faróis com acendimento automático até mesmo na versão mais cara.
Teste Carsale-Mauá
Gasolina | Etanol |
|
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Consumo cidade | 11,2 km/l | 7,8 km/l |
Consumo estrada | 16,1 km/l | 12,2 km/l |
0 a 60 km/h | 4,36 segundos | 4,08 segundos |
0 a 100 km/h | 9,62 segundos | 9,05 segundos |
0 a 120 km/h | 13,73 segundos | 12,80 segundos |
Retomada 40 a 100 km/h | 6,85 segundos | 6,61 segundos |
Retomada 80 a 120 km/h | 6,74 segundos | 6,62 segundos |
Aceleração em 400 metros | 17,02 segundos - 132,97 km/h | 16,60 segundos - 136,65 km/h |
Aceleração em 1000 metros | 31,33 segundos - 166,77 km/h | 30,57 segundos - 171,21 km/h |
Frenagem 100 a 0 km/h | 52,9 metros | 52,9 metros |
Ficha técnica
Carroceria | Monobloco em aço, cinco portas, cinco lugares |
Motor | Dianteiro, transversal, turbocompressor, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas acionado por corrente, a gasolina e/ou etanol |
Número de cilindros | Quatro em linha |
Número de válvulas | 16 (quatro por cilindro) |
Taxa de compressão | 10.0:1 |
Cilindrada | 1.399 cm³ |
Potência | 150 cv a 5.600/153 cv a 5.200 rpm (gasolina/etanol) |
Torque | 24 kgfm a 2.100/24,5 kgfm a 2.000 rpm (gasolina/etanol) |
Transmissão | Automática de seis marchas |
Tração | Dianteira |
Direção | Elétrica |
Suspensão dianteira | Independente tipo McPherson |
Suspensão traseira | Eixo de torção |
Pneus e rodas dianteiros | 215/55 R18, liga leve de 18 polegadas |
Pneus e rodas traseiros | 215/55 R18, liga leve de 18 polegadas |
Freios dianteiros | Discos ventilados com ABS e EBD |
Freios traseiros | A tambor com ABS e EBD |
Tanque de combustível | 53 litros |
Volume do porta-malas | 306 litros (735 litros com o banco traseiro rebatido) |
Altura | 1,67 m |
Comprimento | 4,25 m |
Largura | 1,77 m (2,03 m com espelhos) |
Entre-eixos | 2,55 m |
Peso em ordem de marcha | 1.413 kg |
Carga útil | 416 kg |
Fotos: Guilherme Silva e Divulgação